segunda-feira, 30 de novembro de 2015

cair em si (mim)

caio em mim
em cima de mim
mesmo em cima da cabeça
e entro em mim
há buracos negros
há cometas e estrelas
e vivo uma galáxia em mim
sem astronautas
uma galáxia desabitada
desabituada da presença humana
mas não se sente deprimida
a galáxia
tem a companhia de pós celestiais
que apesar da comichão no nariz
trazem colorido aos dias sem lua
e às noites sem sol
caio em mim
e a expressão não tem sentido
estou sempre em mim
pelo que cair em mim
é uma redundância pleonástica
nada disso:
ando comigo sempre
mas raramente caio em mim
assusta e dói umas vezes
excita e fascina outras
eu e mim
os dois no mesmo espaço -
é capaz de ser muita gente...

A nossa Cruz

Na semana passada, um terrorista aqui do sítio -- americano, homem, branco, de nome Robert Lewis Dear, idade 57 anos -- supostamente atacou uma clínica que faz abortos no Colorado. Matou três pessoas; feriu nove outras. Normalmente, estas pessoas costumam ser mais da ala dos Republicanos, próximos dos apoiantes da NRA; mas, no caso concreto, não se sabe muito sobre a pessoa, nem os seus motivos. É este homem:

Diz o Senador Ted Cruz, Republicano do TX, potencial candidato à Presidência pelo Partido Republicano, que, se calhar, o homem era um "transgendered, leftist activist". Ah os Republicanos do Texas! Se não existissem, teriam de ser inventados...

Esclarecimento

Da página de Facebook do deputado Jorge Moreira da Silva, onde foi colocado o seguinte esclarecimento:
"Em face das notícias vindas hoje a público, dando nota da impossibilidade do Primeiro Ministro António Costa discursar na COP21 em Paris, alegadamente, porque o anterior governo não tinha efetuado essa inscrição, venho esclarecer o seguinte:

  1. O anterior governo assegurou uma preparação impecável da participação de Portugal na COP21, não só no que diz respeito às negociações preparatórias, à composição da delegação (que desta vez inclui ONG e associações empresariais) e à organização de dois side-events portugueses, a ter lugar em Paris, sobre Adaptação às Alterações Climáticas e sobre Crescimento Verde, que contarão com a presença do novo Ministro do Ambiente. Sendo que Portugal é, hoje, uma das principais referências mundiais nas políticas climáticas, tal como vem sendo atestado por diversos rankings internacionais.

  2. Na transição de pasta, o novo Ministro do Ambiente foi por mim informado, na manhã de 5ª feira, isto é, mesmo antes da posse, que toda a preparação da COP21 estava realizada e que, inclusivamente, tinha pedido à Agencia Portuguesa do Ambiente (APA) que preparasse um draft de discurso a ser proferido pelo novo Primeiro Ministro na sessão de abertura ou, caso preferissem, pelo Ministro do Ambiente, na segunda semana da COP21(slot reservado aos Ministros). Sugeri que chamasse de imediato a Secretaria Geral do Ministério e a APA para ter um briefing da COP21 e diligenciar as questões logísticas.

  3. Sei que, também na reunião de transição do então Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho para o futuro Primeiro Ministro António Costa, foi comunicado o convite para discursar na abertura e a articulação necessária, neste aspeto, com o MNE e com o Embaixador de Portugal em França.

  4. Nas últimas semanas, no decurso do período de inscrição da delegação nacional junto das Nações Unidas, e não podendo inscrever, dado que a mesma é nominal, um novo Primeiro Ministro que apenas tomaria posse na última 5ª feira, fomos informando as Nações Unidas, através dos canais diplomáticos, para a necessidade de deixar em aberto esta hipótese de inscrição de última hora. Fomos sendo informados, pelos mesmos canais diplomáticos, que as Nações Unidas estavam cientes desta hipótese e que o mesmo se colocava com outros países, nomeadamente, a Polónia. Isto é, conseguimos assegurar o essencial: o novo Primeiro Ministro, caso fosse essa a sua intenção, poderia inscrever-se para discursar.

  5. Tendo o anterior governo assegurado esta hipótese de participação do novo Primeiro Ministro, só mesmo o atual governo pode clarificar a situação, dado que a mesma radica da sua vontade e das suas ações nos últimos 4 dias.

Dado o desconforto com a informação veiculada no início da manhã de hoje, contactei o novo Ministro do Ambiente solicitando que clarificasse esta matéria e remeti para o mesmo todos os contactos que fui recebendo por parte de jornalistas, esperando que o novo governo optasse por repor a verdade e esclarecer cabalmente a situação. Dado que tal não ocorreu até esta hora, vejo-me obrigado a produzir este esclarecimento."

Fim de citação.

Cultura

Descobri recentemente duas fotos de Wynn Bullock que acho verdadeiramente magníficas. Espero que um dia destes tenha oportunidade de as ver ao vivo no Museu de Belas Artes em Houston. Ficam aqui para futura referência, acompanhadas de um pequeno excerto da visão do artista.

Point of view...

"Of course life is a bitch; if it were a slut, it would be easy!"

domingo, 29 de novembro de 2015

Vocabulário limitado

Ultimamente, sinto que o vocabulário português é muito limitado. Falta-me a palavra "delusional". Traduzir isto como "iludido" não transmite tudo o que se quer dizer.

Aliados naturais

"O primeiro-ministro, António Costa, considerou que a cimeira de hoje entre a União Europeia e a Turquia "correu muitíssimo bem", e sublinhou a posição "coerente" que Portugal tem vindo a defender de aproximação entre as partes.

"Foi uma cimeira que correu muitíssimo bem. Portugal estava, aliás, numa posição confortável, porque não só é membro de corpo inteiro da UE, como é um velho aliado da Turquia no âmbito da NATO, e portanto temos sempre tido uma posição coerente, de defesa da aproximação entre a UE e a Turquia", disse."

Fonte: Jornal de Notícias, 29/11/2015

Um regime revolucionário

"Um regime revolucionário, enquanto existe, e seja qual for o fim a que visa ou a ideia que o conduz, é materialmente só uma coisa - um regime revolucionário. Ora um regime revolucionário quer dizer uma ditadura de guerra, ou, nas verdadeiras palavras, um regime militar despótico, porque o estado de guerra é imposto à sociedade por uma parte dela -- aquela parte que assumiu revolucionariamente o poder. O que é que resulta? Resulta que quem se adaptar a esse regime, como a única coisa que ele é materialmente, imediatamente, é um regime militar despótico, adapta-se a um regime militar despótico. A ideia que conduziu os revolucionários, o fim a que visaram, desapareceu por completo da realidade social, que é ocupada exclusivamente pelo fenómeno guerreiro. De modo que o que sai de uma ditadura revolucionária -- e tanto mais completamente sairá, quanto mais tempo essa ditadura durar -- é uma sociedade guerreira do tipo ditatorial, isto é, um despotismo militar. Nem mesmo podia ser outra coisa. E foi sempre assim. Eu não sei muita história, mas o que sei acerta com isto; nem podia deixar de acertar. O que saiu das agitações políticas de Roma? O Império Romano e seu despotismo militar. O que saiu da Revolução Francesa? Napoleão e seu despotismo militar. E V. verá o que sai da Revolução Russa... Qualquer coisa que vai atrasar dezenas de anos a realização da sociedade livre... Também o que era de se esperar de um povo de analfabetos e de místicos?..."

~ Fernando Pessoa, "O Banqueiro Anarquista" (1922)

Pesos e contra-pesos

O nosso ilustre Primeiro Ministro decidiu que só entrega o Orçamento de Estado depois de Cavaco Silva deixar Belém.

Porque razão terá António Costa tanto medo de mostrar o Orçamento de Estado a um Presidente da República que é economista?

Tiago Brandão Rodrigues

Casualmente, ao fim da tarde de ontem, ao passar pelo canal Económico TV, fui surpreendido com a retransmissão de uma entrevista feita em Maio de 2014 a Tiago Brandão Rodrigues (TBR), o actual Ministro da Educação. A curiosidade fez-me voltar ao início e ver a totalidade da entrevista, na altura justificada pela divulgação de um artigo que TBR publicara na revista Nature Medicine sobre uma nova técnica de avaliação da eficácia dos processos de tratamento para cura do cancro que é objecto de investigação na Universidade de Cambridge.

Quem manda

Vale a pela ler a entrevista Arménio Carlos no Público para percebermos quem manda (como se viu nas votações de sexta-feira na Assembleia da Repúlica).

Um exemplo:
P: O ministro das Finanças, Mário Centeno, defendia num estudo que o aumento do salário mínimo dificulta a criação desemprego. Há esse risco?
R: Uma das propostas do actual ministro das Finanças era o tal despedimento conciliatório e ela entretanto caiu.

Estado, sistema financeiro, endividamento, incumprimentos: histórias que se repetem


Sistema bancário (público e privado), Estado, e centenas de milhões de euros de dívidas em incumprimento. 
O excesso de endividamento da economia portuguesa e as baixas taxas de crescimento, que nos levaram ao pedido de resgate, não são possíveis de perceber sem estas estas histórias, que abundam, de 'investimento'. 
"A lista de credores da sociedade, que tinha acumulado 125 milhões de euros de prejuízos nos quatro anos anteriores, era liderada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), com mais de metade dos créditos (123,2 milhões)(...)"

As companhias de Miss Fisher

Que lhe ensinou a dar nós...

sábado, 28 de novembro de 2015

Parvoíces

A nova secretária de estado Catarina Marcelino declarou, há cerca de um ano, que sofre de dislexia. Isso coloca sobre ela o ónus de, como regra, usar um corrector ortográfico.
Coloca sobre nós o ónus de não gozarmos com os erros ortográficos dela e muito menos chamá-la ignorante. Isto, claro, se não quisermos parecer uns autênticos trogloditas.

A minha amiga é negra

Ferreira Fernandes no DN de hoje.

A minha amiga é negra. Ainda há pouco eu não me lembraria de o dizer. Nesta semana, ela obrigou-me. Claro, não foi do género "olha, escreve lá no teu jornal que sou negra". Foi assim, ela estava a fazer uma coisa solene e ficou de cara levantada - dizia uma jura pública - olhando-nos, olhos nos olhos, a mim e a vocês também. Eu disse-me: está bem, Francisca, eu digo.

Espertos saloios

Lembrei-me agora de uma história que se passou com uma das empresas americanas que produzem frangos. Não me recordo com que país foi, mas ou foi a China ou a Rússia.

Os americanos preferem carne magra e, nas aves, a parte mais desejada pelos clientes e mais cara é o peito, a chamada "white meat" (peito e asas); já noutros países, como a China e a Rússia, a preferência vai os cortes mais gordos, que se designam por dark meat (coxas, pernas).

Uma curiosidade: as patas são consideradas um produto de alta gama na China e as patas americanas são muito desejadas porque são mais gordas e têm mais que comer do que as produzidas noutros países. [Podem ler mais sobre preferências de consumo na Slate.]

Há muitos anos, as empresas americanas costumavam administrar medicamentos aos frangos através de uma picadela numa das pernas do animal e todos os animais era picados no mesmo lado do corpo. Depois de abatido, o animal ficava com uma marca da picadela numa das pernas. Essas pernas eram as que eram exportadas e as pernas sem picadela eram para o mercado doméstico americano.

Eventualmente, no país para onde as pernas picadas eram exportadas, as pessoas questionaram porque razão todas as pernas recebidas eram do mesmo lado do animal. Investigaram e descobriram a razão. Foi um mini-escândalo.

Até nos EUA há espertos saloios...

Frases famosas 20

20. Îtygtgt. Duvida-se que seja famosa esta frase. Duvida-se até que seja uma frase. Mas uma vez encontrada, ou é ou não é famosa, e ou é ou não é uma frase, e só haverá pronúncia e veredicto quando chegada ao fim uma investigação.

BHLDN

Este conjunto de lingerie da BHLDN, a marca de artigos para noiva da Anthropologie, recorda-me do estilo de uma marca britânica, a For Love and Lemons, que na minha cabeça sai sempre como For Love and Demons. Limões, demónios, é quase tudo a mesma coisa.

Mas não era por isso que eu vos falei nele. As duas peças são fabricadas em Portugal e custam a módica quantia de $160 pelo sutiã -- é estilo bralette -- e outros $160 pelas cuecas. Nada mal, pois não?

Só não me parece que este estilo de sutiã funcione muito bem para a maioria das mulheres portuguesas da minha geração; já a cueca parece que faria um rabo muito giro a muita gente!

Lista de Compras

A minha lista de compras é curta:
Uvas.
Escrevo-a à mão, acariciando a caneta,
pressionando o papel ligeiramente,
cada curva das letras desenhada com precisão;
a mesma precisão que o meu dedo teria
se tocasse a tua pele
e desenhasse constelações fictícias no teu corpo.

Tenho fome de te ver comer uvas…
Imagino o seu som ao estourar na tua boca,
a carne da fruta a desfazer-se sobre a tua língua.
A gota de sumo que escaparia dos teus lábios,
escorrendo pelo teu queixo,
o beijo que te daria para a apanhar,
o sabor da uva misturada com o sal da tua pele
na minha língua,
e o amor que então faríamos…

~ Março 2014

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Telhados de Lisboa

Artista: Daria Savina, em Behance

Algures num abrigo, 25/11/2015

President Barack Obama serves Thanksgiving dinner at a homeless center in Washington, D.C.Watch more: http://on.msnbc.com/1MSrVYJ

Posted by MSNBC on Wednesday, November 25, 2015

Eram para ser amigos!

Mais uma vez, os meus amigos decepcionaram-me. Já não basta não me subsidiarem um estilo de vida mais glamoroso do que o meu, como ainda não me informam de livros giros que apelam aos meus interesses. Mas, Deus é grande, e eu chego lá, mesmo com muitas linhas cruzadas.

Morrer e escrever

Acho que, em Portugal, segundo o critério de Bukowski, eu teria de morrer brevemente: as coisas repetem-se muito frequentemente. Não me interessa repetir erros.

Politicamente incorrecto...

Preto:

Gay:

Hot:

Reaprendizagem

"the difference between a Democracy and a Dictatorship is that in a Democracy you vote first and take orders later; in a Dictatorship you don't have to waste your time voting."

da história "Politics Is Like Trying To Screw A Cat In The Ass", in "The Most Beautiful Woman in the World and Other Stories" (1983), pg. 176

~ ~ ~

"People who believe in politics are like people who believe in god: they are sucking wind through bent straws."

da história "Hug the Dark" in "Play the Piano Drunk Like a Percussion Instrument Until the Fingers Begin to Bleed a Bit (1979), pg. 113

~ Charles Bukowski

Reflexão para o 1.º Domingo de Advento

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem.

Lc 21,25-28.34-36


***


É dura e exigente a Palavra do Senhor deste Domingo. Mas, paradoxalmente, apela à simplicidade inicial. Andamos quase sempre preocupados com assuntos que nos consomem corpo e alma e que julgamos de uma centralidade essencial quando, na verdade, nada mais são que «espuma dos tempos».

Assim, quando alguma notícia verdadeiramente importante nos atinge como um murro no estômago, como uma doença, um desemprego, passamos a colocar as coisas em perspectiva e a priorizar o que realmente importa. Aquele relacionamento amoroso que não sabemos onde irá dar, aquela picardia com um colega de trabalho, aquela inveja que nos assalta, a infelicidade com que encaramos o nosso corpo mais velho e não definido como os modelos que nos entram pela casa dentro através da televisão. Tudo isso passa a ser, de repente, uma nota de rodapé.

É extraordinário como um evento que de facto concita a nossa atenção é capaz de destronar o que outrora nos fazia pensar em nada mais. E é quase pueril como, depois, nos sorrimos face à importância que lhes dávamos.

E a chegada do Filho de Deus, uma vez mais ou, se assim não suceder no tempo que nos está destinado, o dia em que O virmos, é esse mesmo convite a distinguir o essencial do acessório. Não há tempo para fazer do acessório principal. Nem pachorra, acrescentaria.

O desafio para este primeiro Domingo de preparação adventícia é esse mesmo: limpar a mente e o coração daquelas mobílias e daquelas roupas que nunca usamos, mas que achamos sempre que um dia serão úteis e ficarmos apenas com o que é essencial para nos mantermos quentes e confortáveis: connosco e com os outros.
sorri mesmo que os
teus olhos ameacem lágrimas.
ainda que a tua voz embargue.
caminha ainda que quem
a teu lado está
caia e ameace desistir.
limpa a testa com as
costas da tua mão e
dá essa mão sem
a pedires de volta.
sê tu, grande e inteiro,
pois só podes mesmo ser
grande
nos momentos que de
ti mais exigem:
é fácil correr na planície...
faz, acredita e espera
tranquilamente,
pois só assim te classificas
como lutador ou dissidente.
e sabes bem que
a tua futura paz
depende, em quase tudo,
dessa decisão.
aqui e agora.

Because... America!

Everything you know about Thanksgiving is wrong ft. Franchesca "Chescaleigh" Ramsey.

Posted by MTV on Wednesday, November 18, 2015

Feliz Dia de Acção de Graças! E boas compras na Sexta-Feira Preta...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O futuro agora

Aos indignados por causa dos títulos dos jornais portugueses referentes à diversidade do novo governo, gostaria de apontar um coisa: se não fossem esses títulos, nenhum de nós estaria a falar dos cegos, ciganos, e cidadãos de cor de Portugal, dos seus direitos, e das suas lutas diárias para tentar construir uma vida num país onde ainda não há verdadeiramente igualdade de oportunidade para todos. Todos nós somos responsáveis pelo estado actual da situação. Censurar os jornais não ajuda.

Mas não se acomodem, não pensem que por estas pessoas estarem no governo o problema está resolvido. Isto é uma batalha numa longa guerra. Convivam com pessoas doutras raças e etnias, capacidades, orientação sexual, estratos sociais diferentes, etc. Certifiquem-se que os vossos filhos têm amigos que são tão coloridos como a humanidade. Ensinem os vossos filhos a serem tolerantes e prestáveis. Sejam pró-activos em vez de reactivos. Façam o futuro acontecer mais depressa!

Ontem, no Observador

Durante estes 50 dias, o Presidente da República comportou-se como as minhas filhas. A mais nova, tal como Cavaco, quando é obrigada a fazer o que não quer, arrasta os pés muito devagarinho. É assim todas as noites quando tem de ir para a cama. São 10 minutos a fazer um percurso que demora meio minuto. Já a minha filha mais velha, sete anos, quando não quer fazer uma coisa, costuma, à primeira, gritar que não faz. Depois, torna a dizer o mesmo, mas com uma voz mais suave e, claro, insiste mais uma vez que não quer fazer, já muito baixinho. Depois, lá se conforma e faz o que tem a fazer, murmurando para si mesma contra a injustiça de que é alvo. Também ela me faz lembrar Cavaco a gerir esta crise. Num primeiro discurso, quando indigitou Passos Coelho, falou muito grosso dando a entender que se recusaria a indigitar um governo com o apoio de partidos que fossem contra a NATO ou contra as regras do Euro. Num segundo discurso, quando deu posse a Passos Coelho, voltou a dizer o mesmo, mas de forma mais suave, ficando a ideia de que poderia mesmo dar posse a Costa num futuro próximo. Finalmente, ontem, quase conformado, mandou uma lista de perguntas, voltando a insistir nos mesmos temas, mas deixando claro que faria o que tem a fazer. Já hoje, tomou devida nota das respostas e “indicou” Costa como primeiro-ministro. As minhas filhas não fariam melhor.

Regresso ao escudo

"Rei morto, rei posto!" Agora que o PS formou governo, já notei que várias pessoas, inclusive analistas que aparecem na TV e que escrevem para os jornais, passaram a criticar o PSD e elogiar o PS, em contraste com o que faziam antes da telenovela Costa. Até já vi um analista dizer que o PSD tem de "cair na real" e acabar com a corrupção e os "jobs for the boys". Entretanto, o governo Costa contém muita gente do governo Sócrates, um dos governos mais corruptos desde a Revolução dos Cravos. Esse governo tinha "jobs for the boys" a torto e a direito, mas já toda a gente teve uma branca ou dizem que temos de esquecer o passado. Quem se esquece do passado comete os mesmos erros no futuro.

Ao mesmo tempo, o Governo Costa tem mais ministérios do que o governo que cessou, aliás, Pedro Passos Coelho teve um dos governos mais pequenos desde 74, mas os factos não ficam bem às pessoas que preferem lamber as botas de quem está no poder. Já agora, recordem-me quando é que o PS se reformou das falcatruas que fez quando levou o país à bancarrota? O PS até retirou António José Seguro da liderança para eleger António Costa, um homem que era apoiado pelas mesmas pessoas que José Sócrates.

É ainda mais preocupante porque ainda o governo novo não governa e os socialistas já exigem censura da comunicação social: não se pode chamar cegos aos cegos, nem ciganos aos ciganos. Reparem na estatística da coisa: se há racismo e intolerância em Portugal é porque a maioria dos portugueses os pratica e tolera. Logo, como o PS, BE, PCP, e PEV representam mais de 62% do eleitorado, segundo as últimas eleições, estes partidos e os seus apoiantes também fazem parte do problema. Isto ainda é mais bicudo porque o PSD/CDS/PP só esteve no poder quatro anos e não foi em quatro anos que o problema surgiu, já vinha de trás, ou seja, o PS é de certeza parte do problema.

Agora digam-me que não, não é: o PS redimiu-se, já temos um Primeiro Ministro de ascendência goesa, uma Ministra negra, uma Secretária de Estado cega, e um Secretário de Estado cigano. Ah, e temos quatro mulheres ministras. Ainda estou à espera de alguém homossexual porque dá-me ideia que se está a construir um escudo humano em redor do governo Costa. Quanto querem apostar que a primeira pessoa que questionar o andamento do processo Sócrates irá ser acusada de racista?

Os invisuais invisíveis

No oitavo ano deu-me uma pancada qualquer e decidi escolher Música como área de estudo para o nono ano. Foi uma escolha muito idiota porque, apesar de gostar muito de música, eu não consigo diferenciar as notas musicais, tenho imensa dificuldade em ler pautas de música -- acho que isso se deve a uma dificuldade de aprendizagem que eu devo ter --, e não sei tocar nenhum instrumento. Ah, e eu desafino tanto a cantar, que até faço o William Hung parecer um cantor espectacular ao meu lado.

ROI e filosofia de trabalho

ROI quer dizer "return on investment" e é um conceito que se adapta a muita coisa. Não gosto de trabalhar com pessoas que não têm noção que têm de criar valor, dado o custo que representam para a entidade patronal. Quando eu trabalhava em consultoria, por exemplo, os nossos projectos tinham orçamentos e nós tínhamos de indicar quantas horas trabalhávamos em cada projecto.

Conhecido da noite (amigo das insónias)

Tenho conhecido a noite de bem perto.
Com chuva retorno, à chuva me fora.
A luz da cidade troquei pelo deserto.

A mais triste rua fitei nessa hora.
Passei pelo guarda nocturno desperto
E de olhos em baixo, andei sem demora.

O meu passo ficou mudo e parado,
Quando ouvi ao longe um grito, por Deus,
Vindo entre as casas, da rua do lado,

Não para me chamar ou dizer adeus;
E mais, dizia de lugar incerto
A luz das horas que apontava os céus:

O tempo não era errado nem certo.
Tenho conhecido a noite de bem perto.

(Minha versão de "Acquainted with the Night" de Robert Frost)

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Tenho imensa pena...

que a Siri não existisse em 2001. Ter-me-ia poupado muitas chatices. 


Justificação

Está a decorrer o plantio de soja na Argentina. Como tal, acompanhei as eleições na Argentina atentamente. Maurício Macri, quem eu tinha previsto que iria ganhar no Domingo, foi o vencedor.

Depois da vitória surgiram uns rumores acerca da política que ele iria seguir na agricultura. Na segunda-feira, a minha chefe perguntou-me o que eu achava. Depois de consultar os jornais argentinos para ter a informação mais recente e sem ser filtrada pelos media americanos, informei-a da minha opinião. Hoje o novo Presidente da Argentina confirmou o que eu tinha dito.

Fiquei feliz porque justifiquei o meu salário.

Só um político muito bom consegue ser tão mau

Hoje, numa sessão na EEG - Universidade do Minho, o João Miguel Tavares encontrou a formulação que eu procurava há algum tempo para descrever a forma como António Costa chegou a Primeiro Ministro: "só um político muito bom consegue ser tão mau".
E não sei se isso é razão para ter esperança (porque há uma probabilidade de nos surpreender positivamente) ou medo!

Da natureza das geringonças

A geringonça está pronta e vai começar a andar dentro de momentos, mas devagarinho, muito devagarinho. Qualquer aceleradela pode-lhe ser fatal. Não interessa muito a qualidade das peças que compõem a geringonça. Podem até ser todas de excelente qualidade. Como é próprio das geringonças, está mal engendrada, mal-amanhada. Vai contra as leis da natureza e do bom senso. Na primeira curva, vai abanar por todos os lados, e nem precisa de ser uma curva muita apertada. Qualquer acontecimento imprevisto é o suficiente para que se escangalhe toda. 

Francisca Van Dunem

A circunstância de uma mulher negra chegar a Ministra da Justiça não devia ser notícia no séc. XXI. Mas é. Infelizmente. Do mesmo passo, o facto de o indigitado (ou indicado) Primeiro-Ministro ter origens goesas.
Mas vivemos no mundo real e no Portugal de 2015, com as suas esquizofrenias.
Van Dunem, como aliás qualquer titular da pasta da Justiça, tem uma das mais espinhosas tarefas. Depois de um consulado em geral desastroso de Paula Teixeira da Cruz, as expectativas poderiam ser baixas. Todavia, não o são. O mapa judiciário continua a levantar enormes problemas na prática, os endémicos atrasos parecem uma fatalidade e é necessário esvaziar o clima de crispação entre operadores judiciários e Ministério, em especial no Ministério Público.
A escolha da até aqui Procuradora-Geral Distrital de Lisboa não será ingénua. Ou, pelo menos, admite essa leitura. Costa quer passar a ideia de que não haverá intromissão do Executivo na investigação criminal, em especial quando casos tão mediáticos estão em curso. E nada melhor do que convidar alguém com perfil independente, combativo e competente.
Sabe-se da normal «rivalidade» entre as magistraturas, o que poderá, aqui e além, provocar alguns remoques. Nada para que um Ministro não tenha de estar preparado.
É sobretudo na matéria cível que a nova Ministra terá de investir: a legislação processual civil é caótica, os processos executivos em regra inoperantes, há falta de funcionários judiciais e as condições físicas de alguns Tribunais são quase anedóticas. Não convirá mexer mais no Penal e no Processo Penal, pelo menos por agora, atenta a fragilidade com que as reformas podem ser encaradas, por se «colarem» a casos e não a ideias de fundo.

Sobretudo, mais do que legislar, impõe-se dar execução prática ao que já existe. Sabe-se há muito que em Portugal, como em outras latitudes, o problema não é de leis, mas da sua efectiva aplicação. Oxalá a nova Ministra resista à tentação de deixar o seu nome em muitos diplomas publicados em «Diário de República». As «reformas de papel» são como os tigres feitos do mesmo material. Caem logo à primeira rabanada de vento.

Frases famosas 17

17. Pediu-lhe encarecidamente que deixasse. Que desse autorização. Que permitisse. Muito lhe rogou. Ofereceu-lhe os seus préstimos durante os próximos cinquenta anos, sem arrependimento nem interrupção.

As 100 nomeações do governo

Há muitos abusos, mas estas notícias só servem mesmo para fazer ruído e desinformar. Estas nomeações caem todas com a tomada de posse do novo governo, como as anteriores caíram todas com a tomada de posse a 30 de outubro. É preciso secretariado, motoristas, chefes de gabinete e alguns adjuntos, mesmo para as tarefas rotineiras (sobretudo no caso dos governantes sem experiência). A publicação tem de certeza, na grande maioria dos casos, efeitos à data da tomada de posse do governo da coligação. 

Já agora, até ao final de 2014, no Ministério da Administração Interna, as despesas com os gabinetes tinham diminuído 40% face ao governo anterior. Nas outras despesas que não pessoal, a redução foi de 60%. Tenho ideia que esta redução foi semelhante na generalidade dos ministérios.

Jobs for the boys

Anda muita gente irritada por terem saído as nomeações de 100 pessoas para o governo cessante. Diz-se que isto é prova de que o governo PàF só estava interessado em jobs for the boys.

Não tenho opinião a este respeito porque sou ignorante nesta matéria: não sei se 100 pessoas é muita gente, ou pouca, para 15 ministérios. No entanto, se a PàF faz a festa com 100 pessoas, eu espero que o governo actual não exceda esta proporção: mais de 114 nomeações e saberemos quem distribui mais jobs for the boys.

ROI

Já sabem que eu não gosto deste governo, nem acredito nele. Talvez me chamem Direitolas, como já vi chamarem a outras pessoas. Eu não sou de Direita, nem de Esquerda; até voto no partido Democrata nos EUA, logo se vocês acham que isto é ser de Direita então temos definições diferentes. Não sou uma pessoa injusta, nem sádica; é lógico que desejo o melhor para os portugueses e para Portugal. Por isso vou dizer-vos qual a minha expectativa, que é para perceberem que eu rejo-me por critérios objectivos, e não por amor a partidos.

O novo governo irá ter dois ministérios a mais do que o anterior. Suponho que isto irá traduzir-se num aumento do custo de governar Portugal. Eu vou ficar à espera que esse aumento no custo produza um retorno. Sendo assim, espero que o PIB per capita de Portugal aumente numa proporção superior à que irá aumentar o orçamento do governo actual. Espero que a distribuição de recursos, medida pelo índice de Gini, melhore e que a taxa de desemprego diminua. É esse o retorno de investimento que eu espero deste governo.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Da natureza do fracasso em Política

Estou aliviado com o fim do anterior governo. O atual não tem uma vida propriamente fácil e é possível que falhe. Mas, pelo menos, há a convicção de que, se falhar, falhará por ser incapaz de fazer aquilo em que acredita e não, como o governo que acabou, por ser capaz de o fazer. E estas coisas, em Política, são importantes. Muito. Boa sorte. 

O novo governo

Apesar das dúvidas que tenho acerca da viabilidade de um governo com a base de apoio deste, um governo com nomes como Mário Centeno, Maria Manuel Leitão Marques, Manuel Caldeira Cabral, José António Vieira da Silva, Manuel Heitor ou Ana Paula Vitorino, dá-me alguma esperança de que as coisas possam correr bem. Desejo-lhe as maiores felicidades.

Saiam da frente, esta cultura é diferente

Com toda a certeza, a esquerda opinativa vai começar o elogio ao novo governo pela sua amada pasta da cultura, que, como se sabe, não pode ser ocupada por um político, mas apenas por reconhecidos intelectuais com ampla produção cultural.
O quê? Quem? João Soares? Ai oh pá, quando a borracheira da festa lhes passar...

Alerta global

Ontem, o Departamento do Estado dos EUA emitiu um alerta global para cidadãos americanos em viagem ou prestes a viajar:
The State Department alerts U.S. citizens to possible risks of travel due to increased terrorist threats. Current information suggests that ISIL (aka Da’esh), al-Qa’ida, Boko Haram, and other terrorist groups continue to plan terrorist attacks in multiple regions. These attacks may employ a wide variety of tactics, using conventional and non-conventional weapons and targeting both official and private interests. This Travel Alert expires on February 24, 2016.

Para além das várias recomendações, os EUA aconselham os cidadãos a inscrever-se no STEP, Smart Traveler Enrollment Program: antes de cada viagem, sugerem que informemos os EUA de onde vamos e de como podemos ser contactados para que nos possam enviar informação durante a viagem, caso haja perigo na área que visitamos.

Hoje quando acordei, tinha uma notificação push da Bloomberg a indicar que a Turquia tinha abatido um avião militar russo sobre a Síria. Ainda bem que António Costa é Primeiro-Ministro, não tenho vontade nenhuma de ir a lado nenhum...

Aqui d'El Rei

Fico muito satisfeito com a conversão de PS, PCP e BdE às bem aventuranças do parlamentarismo das monarquias constitucionais. Agora só falta abolir a alínea b) do artigo 288º da Constituição e acrescentar uma excepção ao artigo 13º. Senhor D. Duarte, prepare o menino Afonso.

Insultadas, como sempre

O governo PàF tinha 15 ministérios e quatro ministras, logo 26,67% de representação feminina--e note-se que o Ministério das Finanças, era liderado por uma mulher. O governo de Esquerda tem 16 ministérios e destes apenas quatro são mulheres, logo 25% de representação feminina.

O PS apoiado pela Extrema Esquerda portuguesa situa-se mais à direita em igualdade de género do que o governo de Direita. E parece que, de cada vez, só se encontram quatro mulheres competentes em Portugal. Um insulto para as mulheres portuguesas, mas nós já estamos habituadas.

Re: O regresso de uma pergunta: Are we going Greek?

Talvez há duas semanas, um amigo meu virtual que vive num dos países da Europa do Norte contactou-me para saber se eu poderia ajudar uma sua amiga em Portugal. A senhora andava à procura de um brinquedo para o filhote, mas não o conseguia encontrar. Perguntaram-me se era possível eu arranjá-lo nos EUA. Eu comprometi-me a ajudar.

A criança para quem o brinquedo é tem problemas de saúde. Participar num esforço que envolve três países diferentes no sentido de fazer esta criança feliz é para mim a melhor prenda de Natal que eu poderia desejar. Há também um certo orgulho, obviamente, por ter merecido esta confiança.

Hoje a mãe enviou-me um email a perguntar do meu progresso. Em conversa entre os três, no nosso email de grupo do Facebook, todos indicámos que estamos preocupados com António Costa ser Primeiro Ministro -- leia-se que nenhum de nós tem confiança em António Costa. Seria engraçado não ter confiança em alguém que durante a campanha eleitoral a pediu, mas a graça perde-se perante o potencial de tragédia.

No seu último post, o Fernando Alexandre perguntou se Portugal seria a próxima Grécia. Quando falava com esta mãe, ela disse-me que já tinha começado a colocar dinheiro de lado num mealheiro, caso Portugal entrasse numa situação de controle de capitais, pois o filho dela precisa de tomar medicamentos todos os dias e ela tem medo de não poder levantar dinheiro suficiente do banco.

Ela já age como se Portugal fosse a Grécia. Se esta portuguesa já está a fazer isto, quantos mais não estarão ou irão começar a fazer?

Cortesia

Segundo o Houaiss, que costumo usar quando quero precisão nos termos, indigitar significa “mostrar com o dedo ou por meio de gestos”, entre outras coisas – como “indicar”.


Concluo que o Senhor Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, apenas pretendeu ser bem educado para com o Dr. António Costa.

Mais uma baixa no blogue

Manuel Caldeira Cabral no governo. A Destreza volta ao governo de Portugal. Só podemos estar esperançados.

O regresso de uma pergunta: Are we going Greek?


Portugal deve ter em breve um governo liderado pelo PS, com António Costa como Primeiro-Ministro e Mário Centeno como Ministro das Finanças. Tem sido tradição em Portugal que o governo que toma posse se manifeste surpreendido com a situação que encontrou. Esta é sempre pior do que aquela que antecipou. Esta surpresa é quase sempre um misto de baixa política com verdadeiro desconhecimento do estado das contas públicas (e do que é o OE). As finanças públicas em Portugal, fundamentalmente porque os nossos credores nos obrigaram a tal (ninguém empresta €78  mil milhões às escuras), têm hoje um  grau de transparência como nunca tiveram.

Estando Portugal a sair de uma crise de dívida pública, ainda com muitas fragilidades, a forma como o provável futuro Ministro das Finanças anunciou o fim da austeridade só pode ser explicada por uma grande confiança no conhecimento da situação das finanças públicas e na recuperação da economia portuguesa.
      
Portugal, desde o resgate de 2011 - causado, pedido e assinado por um governo socialista –, fez progressos muito significativos, como registou a agência de rating DBRS, na sua nota de 13 de novembro. Destaco os seguintes progressos aí sinalizados:

Portugal’s fiscal deficit has improved notably, owing to the fiscal consolidation measures implemented under the 2011-2014 EU/IMF Economic and Financial Adjustment Programme.
(…) Portugal’s debt repayment profile has also improved, which mitigates some of the risks stemming from its large financing needs. 
(…) important structural reforms were adopted. (…) the reallocation of resources to economic sectors oriented to external demand has progressed, with exports increasing to 41% of GDP in 2014 from 27% in 2008.
(…) Portugal’s current account remains in small surplus, following a substantial correction of persistent deficits.”

Nessa nota, a DBRS alerta para a fragilidade da recuperação e para as vulnerabilidades da economia portuguesa: o elevado endividamento, o baixo crescimento potencial, a incerteza em relação à como forma como vai evoluir a consolidação orçamental. Na tentativa de ter mais informação sobre as perspectivas de consolidação orçamental, a DBRS falou com Mário Centeno. Este terá assegurado o comprometimento com os objectivos europeus de consolidação orçamental.

Desconheço a forma como o cumprimento dos objectivos de consolidação orçamental se coaduna com o anunciado fim da austeridade. Mas espero, sinceramente, ser surpreendido. Acredito que é sempre possível melhorar. E na gestão do Estado português não falta por onde fazê-lo. Mas a execução orçamental tem uma enorme rigidez.

Dada a incerteza do que temos pela frente, tornou-se inevitável o regresso da questão colocada em 2012, e que desde 2014 deixou de ser: Seremos nós a próxima Grécia? Are we going Greek? 
Como podem ver no site, que eu e o Pedro Bação mantemos actualizado desde outubro de 2012, Portugal, apesar dos enormes desafios que tem pela frente, fez um progresso muito significativo nos últimos anos: no rendimento, no desemprego, no emprego, nas taxas de juro, na correcção do défice orçamental, na correcção do défice externo.

Vamos continuar a actualizar o site. E esperamos que as tendências para a economia portuguesa se mantenham.
É essa a responsabilidade que António Costa e Mário Centeno terão nas suas mãos.

À tarde, em busca de Noites

Quando cozinho, costumo preparar muita comida. Talvez o suficiente para uma família de quatro, que era o tamanho da minha família portuguesa, com direito a um bocadinho de sobras. Como há sempre frigorífico e congelador, nunca reduzi as doses. Em vez disso, quando é mesmo muito, arranjo bocas para comer. Em Memphis, uma das senhoras que trabalhava na minha equipa já tinha mais de 60 anos, vivia sozinha, não gostava de cozinhar, e não se achava boa cozinheira. Regularmente, eu dava-lhe comida para ela variar o cardápio. Aqui em Houston, talvez uma vez por semana, em média, entrego umas duas ou três refeições à minha vizinha J. que tem 92 anos e vive sozinha.

Hoje, à hora do almoço, passei por casa dela para lhe entregar um pseudo-caldo verde, uma feijoada, e batatas assadas no forno com dois tipos de carne com que as servir. A feijoada devia ter sido entregue a semana passada, mas eu não orientei bem o meu horário de trabalho para estar em casa a horas decentes para ter tempo de a ir ver à noite. Acabei por congelar grande parte do que fiz e não a quis entregar assim. A J. disse-me hoje que gosta muito da comida que eu faço e perguntou-me quem é que me tinha ensinado a cozinhar. Foi a minha mãe, claro.

O primeiro prato que aprendi a cozinhar foi arroz branco. Parece ser fácil, mas frequentemente me esquecia de pôr sal ou não acertava na água, e ficava muito mal. Uma real porcaria era o que era, mas a minha mãe dizia que, na próxima, sairia melhor e ria-se divertida com os meus desastres. E lá foi indo até ficar bom. Depois ensinou-me a refogar, estufar, etc.

A minha mãe gostava muito de boa comida, sabia cozinhar muito bem, mas não gostava de cozinhar. Às vezes, via uma receita e chegava ao pé de mim e dizia, com uma voz muito cativante e uns risinhos envergonhados, que parecia ser tão bom, será que eu a conseguiria fazer... Era um belo engodo para quem gosta de desafios. Lá caía eu que nem uma pata choca nas artimanhas dela. Lembro-me de uma vez eu acabar a estufar um peru para a ceia de Natal que era tão grande e pesado que eu quase não conseguia levantar o tabuleiro.

Quando a J. me viu à porta, pediu-me para entrar e ficar um bocadinho. Dirigi-me à cozinha e sentámo-nos. Disse-me que estava a fazer a lista de filmes que queria ver, para encomendar no Netflix pelo computador. Depois explicou-me como ela seleccionava os filmes: lia a revista The New Yorker e via o que era mostrado em festivais de cinema. Disse-me que queria ver "Arabian Nights", mas não sabia se o Netflix teria.

Começou a contar a história do filme e mencionou que era de um tal Gomes e a acção tinha a ver com Portugal. Era "As Mil e Uma Noites" do Miguel Gomes. A J. questionava-se se o filme teria sido filmado em Portugal. E leu outra vez a The New Yorker, desta vez em voz alta para mim, ao mesmo tempo que me mostrava a revista. Concluiu que, de certeza absoluta, era. E notava-se que ficou encantada com a perspectiva de ver um filme filmado em Portugal.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

For your eyes only

António Costa ao Presidente da República de Portugal: "For your eyes only!"

O secretário-geral do PS, António Costa, já enviou a carta de resposta às questões colocadas hoje pelo Presidente da República sobre os acordos de Governo subscritos pela esquerda parlamentar, disse à Lusa fonte oficial socialista.

De acordo com a mesma fonte não será divulgado o conteúdo da carta.

Fonte: Sic Notícias, 23/11/2015

Grandes dificuldades

"[...] to have a heart that never hardens, and a temper that never tires, and a touch that never hurts [...]"

~ Charles Dickens, "Our Mutual Friend"

Uma anormalidade...

Levou apenas 11 dias para o Presidente da República consultar um rol de pessoas, que toda a gente achava serem de mais, e durante este processo nem sequer faltou a compromissos anteriormente agendados. Num país onde a produtividade para produzir é baixa, digamos que o nosso PR exagera.

Quase assim

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

domingo, 22 de novembro de 2015

Agiotas, procuram-se...

Edgar Silva, candidato do PCP às Presidenciais, discorda do actual Presidente no que diz respeito ao que deveria fazer um bom Presidente da República. Diz ele que deveria ter coração e não ser uma múmia, como o nosso actual Presidente.

Desde já--e isto deve ser mais pela minha veia americana do que pela portuguesa--detesto faltas de respeito ao Presidente da República. Também acho que é muito idiota que quem quer ser Presidente não se importa de insultar o actual Presidente: é, no mínimo, uma atitude muito pouco presidencial e indica-nos que a pessoa não tem qualquer respeito pelo cargo.

Diz o Sr. Edgar Silva que Cavaco Silva está mais interessado em satisfazer agiotas do que em defender os interesses do povo. Quais agiotas? Que eu saiba, Portugal está a conseguir emitir dívida a juros negativos. Se quem nos empresta é agiota (coitado do Mário Draghi, o principal impulsionador disto--outro Presidente a ser insultado), então devemos satisfazer estes agiotas. E já agora, guardem uns poucos para mim, que eu tenho umas hipotecas para pagar e dar-me-ia jeito ser explorada por estes agiotas.

Ainda não percebi muito bem como é que alguém do PCP cospe na cara de quem empresta dinheiro a Portugal ao mesmo tempo que apoia um partido para formar governo que tem um plano de crescimento para o país que depende de dívida. Para o PS o fim da austeridade deve-se ao pagamento mais lento da dívida, não se deve a haver confiança de que o plano do PS gere crescimento suficiente que permita pagar a dívida ao ritmo do pseudo-plano da PàF.

Finalmente, Edgar Silva está um pouco desactualizado: Jorge Sampaio e José Sócrates já nos disseram antes que a dívida é uma coisa que não importa, não é para pagar, é para gerir. Se bem me recordo essa filosofia de estar na vida quase arruinou Portugal em 2011. Se ainda não aprendemos esta lição, então ou somos burros ou muito masoquistas.

Sabem o que é mais triste? Quando eu penso em políticos à frente de países, penso em pessoas inteligentes, com o mínimo de competência intelectual; pessoas com quem, se eu me sentasse à frente delas e as ouvisse falar, poderia aprender alguma coisa. Mas eu olho para a política actual e não vejo pessoas assim. Que tristeza...

Uma visão de consenso da crise da dívida europeia?

Um conjunto de economistas conhecidos propôs uma "narrativa consensual" da crise da área do euro. De acordo com a visão de consenso, a crise não deve ser vista como uma crise da dívida pública na sua origem (embora tenha evoluído para aí), mas sim como o resultado de uma "paragem súbita" (sudden stop) do financiamento.

Contudo, parece-me que a visão de consenso que é proposta distingue dois casos. O primeiro caso é o da Irlanda e da Espanha. Estes países tinham orçamentos praticamente equilibrados e dívidas públicas baixas antes da crise, mas assumiram (Irlanda), ou receou-se que assumiriam (Espanha), responsabilidades dos bancos, fazendo disparar a dívida pública para níveis que alarmaram os investidores e originaram a "paragem súbita". O segundo caso é o da Grécia e de Portugal. Neste caso, a dívida pública já estava numa trajectória crescente antes da crise, essa tendência foi agravada pela reacção à crise e foram preocupações acerca dessa trajectória que originaram a "paragem súbita".

sábado, 21 de novembro de 2015

Um anjo no Inferno

Uma (boa) amiga escreveu-me a queixar-se por eu ter escrito no meu artigo no Observador de quarta-feira que as mulheres eram o Inferno e que desde Eva que o sabíamos, o que pressupõe uma generalização à escala universal.
Sou obrigado a reconhecer que fui injusto. Há pelo menos um anjo e é português. Deixo-vos aqui o seu vídeo de apresentação na Victoria Secret.

You're the shit and a half!

Um amigo meu telefonou-me hoje e pediu se eu podia servir de referência para uma futura promoção. Eu disse que sim e ele agradeceu e disse "You know, I really think you're the shit and a half!"

Desatei a rir e perguntei se era boa ideia dizer aquilo depois de me pedir uma recomendação. Ele pergunta: "Remember the 90s, when we were young?" Respondi que sim e ele continua: "The first time I heard anyone say "You're the shit", I got really confused, but everyone started complimenting people using that expression, so, there, I really think you're the shit and a half!"

Uma forma tão colorida de elogiar alguém, tinha de ser americana...

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Outro Governo Sombra...

Ontem caiu um santo do altar. Eu sei porque fui ao ginásio pois tenho de caminhar mais. A minha chefinha deu-me 1 kg de chocolates depois do Halloween e tenho andado a comer aquilo quase todos os dias. E reparem que eu nem sequer tinha recuperado das bolas de Berlim das férias em Portugal, logo tenho de compensar.

All in

Assumindo que Passos Coelho se recusa mesmo a manter-se em gestão, e que Cavaco sabe que qualquer governo, incluindo um de iniciativa presidencial, precisa de não oposição da maioria dos deputados, é razoável também assumir que Cavaco sabe que precisará dos votos dos deputados do PS para validar qualquer solução que saia da sua cabeça. Não me surpreenderia se a jogada por detrás de todo este teatro fosse a seguinte: o Presidente apresenta um caderno de encargos que seja simultaneamente impossível de aceitar por Costa - por violar as promessas feitas à esquerda - e que a direita dentro do PS possa credivelmente defender como razoável; um caderno de encargos deste tipo, por exemplo, incluiria o congelamento do salário mínimo e a manutenção dos cortes dos funcionários públicos enquanto o défice não estivesse em linha com o acordado com as instituições europeias, a quem se tem de dar confiança; Costa não teria outra solução que não rejeitar o caderno de encargos, o que então geraria um tumulto dentro do PS; este tumulto levaria à demissão de Costa; Cavaco nomeia um governo de iniciativa presidencial, comprometido com a convocação de eleições no Verão, que os deputados do PS não mandariam abaixo por não terem uma alternativa credível no curto prazo.

É uma jogada arriscada, mas não me surpreenderia que o político profissional há mais anos no ativo, em fim de uma carreira cheia de ambição pessoal e abundante em deslumbramento consigo mesmo, acreditasse que podia ficar na História. 

Mário Centeno, versão Pai Natal 2.0

Mário Centeno, na entrevista ao El Espanõl, onde demonstra desconhecer História de Portugal ou talvez se queira candidatar ao papel de Pai Natal, versão 2.0:

A nossa originalidade

Vasco Pulido Valente tem razão. Já é tempo das “personalidades” de direita temperarem as suas intervenções. Não faz sentido nesta altura do campeonato chamar “golpista”, “fraudulento” e “usurpador” a António Costa, que com certeza agradece a oportunidade que lhe dão para se poder armar em estadista e moderado. Eu também estou apreensivo com um governo socialista. Também acho que houve um abuso de confiança em relação ao eleitorado. A minha apreensão não tem nada a ver com questões de legalidade – é tudo legal e penso que ninguém contesta isso. A minha apreensão é só uma: em nenhuma democracia moderna e civilizada, daquelas que os “grandes educadores” do povo gostam de evocar para justificar o que se está a passar em Portugal, existe um governo apoiado, ou melhor, refém de partidos estalinistas e trotskistas. É uma originalidade que dispensava, porque acho que nos vai custar caro. É só isso.

Coisas esdrúxulas 90

Ulisses, o irritado, Odisseus, filho da cólera, deixou a paz doméstica, o tálamo e as carícias e provou-se na guerra de Tróia prudente e astuto.

A vontade dos mercados

Como é que, a pretexto dos juros da dívida pública, se continua a falar nos "mercados" e na "vontade dos mercados" quando o BCE intervém da forma que intervém impedindo qualquer ajustamento dos mercados?
Repare-se que este comentário é independente de se concordar ou não com a forma como o BCE está a intervir no mercado.

Bioterrorismo

Se têm acompanhado as notícias, um dos riscos mais altos que neste momento se considera na Europa é o potencial de serem usadas armas químicas e biológicas em ataques terroristas. Por estranho que pareça, na Quinta-feira à noite, antes dos ataques de Paris, andei à procura de um dos meus livros de receitas. Não é bem um livro a sério, são umas folhas de papel branco que foram cortadas, dobradas, e agrafadas para fazer um livro pequenino. Parece ser uma coisa muito prosaica, mas nesse livrinho estão receitas de armas químicas e biológicas, coisas como antraz e ricina.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Sodomia

'Apparently there’s a term for someone who gets turned on by intellectual stuff. You know, just talking. What’s the word?' His face creases the effort of trying to remember. 'I want to say ‘sodomy’?'

Sean Rad, CEO do Tinder

Fonte: Yahoo News

Esta mulher

"Esta mulher é um estrondo.Parece que nunca se engana e raramente tem duvidas."
~ Um João num post meu...

Será isto uma reciclagem do "esganiçada"? Não percebo porque é que é mau ter auto-confiança e ser assertiva. Experimentem, sabe tão bem, e dá muito jeito--até daria jeito a muitos homens.

O tempo de não pensarmos, andarmos cabisbaixos e metidos na ordem foi durante a ditadura, que acabou há 41 anos. Nunca me esqueço que houve umas pessoas simpáticas que lutaram para eu ter liberdade de expressão. Eu agradeço e honro o esforço dessa gente exercendo as minhas liberdades. Logo, "esta mulher" é a Rita, que até tem sobrenome. Habituem-se, caros Joões sem sobrenome de Portugal!

Superioridade moral

Sabe-se hoje que Abdelhamid Abaaoud, o suposto mentor dos atentados de Paris, já está morto. Não foi capturado, nem levado a julgamento. É mais ou menos como o que sucedeu a Osama bin Laden, só que esse levou mais tempo.

Um fartote

A Rita diz que um governo de gestão não é o pior para Portugal; é o pior para António Costa. Não é só Costa que anseia pela sua nomeação como primeiro-ministro – aliás, o homem nas últimas intervenções até já dá sinais de desespero, chega a ser patético. A seguir a Costa, ninguém deve desejar mais a nomeação de um governo socialista do que Marcelo Rebelo de Sousa. Imagino que o homem reze todos os dias um terço (ou um rosário) a pedir a Deus Nosso Senhor que ilumine Cavaco Silva nestes dias de aflição. Lembram-se da rábula de Ricardo Araújo Pereira sobre a posição de Marcelo na lei do aborto? Se bem me lembro, era assim: “É legal? Não. Mas pode? Pode.” Que diria agora Marcelo se Cavaco optasse por um governo de gestão? É legal? É. Mas pode? Não pode, pode, talvez. Era um fartote.

Deslocado da realidade

Esta semana Cavaco Silva fez uma grande revelação que passou despercebida a muita gente. Ouviu-se o que ele disse, mas não se teve noção das implicações do que ele disse. Em vez disso chamam-lhe "deslocado da realidade", o que me leva a entender que muita gente que está em Portugal confunde Portugal com a realidade. A realidade é muito maior do que Portugal e, como realmente se seguiu uma política onde Portugal depende de outras realidades através de dívida, é bom que alguém em Portugal repare na realidade maior que não é Portugal.

Floricultura 1

1. É no dia mais quente do ano que se dá a ver o único espécime conhecido da Oppositum Flos Atacamensis.

É como na França ou talvez não

Há dias assisti a uma conferência de Pacheco Pereira. O tema era o comentário político nas televisões. Pacheco desvaloriza o facto de umas largas dezenas de comentadores serem políticos no activo ou na reserva. Vê até vantagens nesse fenómeno. Primeira, é preferível sabermos as posições de quem fala ou escreve, em vez de “pseudoindependências” – disso é que Pacheco Pereira diz não gostar nada. Segunda, este tipo de comentador tem um conhecimento directo da realidade que os outros não têm, o que lhes permite muitas vezes esclarecer melhor a audiência sobre certas práticas e comportamentos partidários. Por fim, declarou que, ao contrário do que por aí se diz, Portugal não é um caso único no panorama europeu. Por exemplo, em França também é normal este trânsito entre a política e o comentário. Por azar, na plateia, estava um senhor que conhecia muito bem a realidade mediática francesa. Espantado com a observação de Pacheco Pereira, pediu que lhe desse um exemplo - um exemplo que fosse, insistia o senhor - de um político ou ex-político que tivesse um espaço de comentário político regular num órgão de comunicação social francês. Ficou sem resposta.

A banana de Cavaco

É altura de alguém se levantar e defender o Sr. Prof. Cavaco Silva, tão vilipendiado nestes dias!

O Sr. Presidente da República é um visionário, camaradas! Olhai e vede como o Cavaco é bom!
Reparai que agora, com um Governo de gestão, Portugal se consegue financiar nos mercados internacionais a juros negativos! A inflação já está em terreno positivo, assim acalmando quem temia uma tormentosa deflação!

Mais: o “Diário da República” anda tão sossegado como já se não via há muito tempo, o que tem poupado aos juristas imensas dores de cabeça e indigestões matinais com a sua leitura sempre que os órgãos de soberania se punham a legislar com os pés! A Madeira foi promovida internacionalmente, voltou a falar-se da banana, tema que estava esquecido e que em boa hora foi recuperado – a visão do estadista: melhoria da balança comercial pátria e ajuda aos saudosistas do Estado Novo que logo desenterraram aquele célebre cartaz de antanho com a propaganda oficial à qualidade da boa banana madeirense!

É sabido que as pessoas gostam de ser ouvidas, que se lhes preste atenção. E o que tem feito o excelso Presidente? Decidiu abrir as portas de Belém a um corropio de gente enfarpelada, mas sem esquecer os sindicalistas de casaco de couro coçado e de camisas antiquadas! Ninguém foi esquecido! Parece mesmo que os partidos políticos serão ouvidos! Ó magnificência! Ó virtude teologal e cardeal!

Remato com o mais importante: graças a Cavaco o Sol continua a nascer todos os dias, o tempo continua ameno e tudo indica que o Pai Natal não deixou Portugal de fora do roteiro consumista!

Viva Cavaco! Que  sempre viva um homem de visão!

Viver com terrorismo à porta de casa

A segurança na Europa depois do atentado em Paris fez-me reviver uma experiência de há mais de quarenta anos. É que terror na Europa, já houve – e em diversas ocasiões.

Frases famosas 8

8. Manoel de Azevedo Fortes, engenheiro-mor do reino quando ainda havia um lá para os séculos dezassete e dezoito,

Traduzir...

Às vezes, quando acordo de manhã, pego num livro de poesia e desfolho-o. Quero encontrar algo que me toque e que fique comigo o resto do dia. Um dos meus autores preferidos para fazer isso é Eugénio de Andrade, até porque muitos dos seus poemas são pequeninos e cabem num minuto que pode durar o dia todo. Ontem de manhã foi assim.

Pontos de vista

Acerca de terrorismo:
"We cannot solve this problem only through prayers. I am a Buddhist and I believe in praying. But humans have created this problem, and now we are asking God to solve it. It is illogical. God would say, solve it yourself because you created it in the first place. [...] So let us work for peace within our families and society, and not expect help from God, Buddha or the governments."

~ The Dalai Lama

Fonte: Deutsche Welle

~ ~ ~

“To forgive the terrorists is up to God, but to send them to him is up to me.”

~ Vladimir Putin

Fonte: Russia Insider

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Um homem de valores

Parabéns a António José Seguro, que completou a sua dissertação de mestrado com 18 valores! Parece ser boa pessoa, apesar de não ser muito carismático. Tenho pena que não lhe tenham dado o devido valor há uns anos, mas agora ficou com 18. Quem ri por último...
António José Seguro apresentou e defendeu hoje a sua tese de mestrado no ISCTE, em Lisboa, obtendo a nota final de 18 valores.

O antigo secretário-geral do PS apresentou um trabalho sobre a aplicação da reforma de 2007 do Parlamento - que ele próprio liderou como deputado - no controlo político dos atos do Governo e da administração entre 2007 e 2014.

Fonte: Expresso

Entrelinhas

Encontrei o infinito
nesse segundo de tempo passado.
Um pedaço de tempo perdido,
um rochedo abandonado.

Nas entrelinhas do que escrevo,
nos interstícios do que sinto,
o amor que não te levo
perde-se nesse infinito.

Há palavras nunca ditas,
gestos nunca tentados,
murmúrios jamais sussurrados.

~ Rita

Reflexão

Desde a invasão do Iraque pelos EUA, com a qual eu discordei, muitos dos meus amigos portugueses lembram-me que os americanos são maus, erraram ao fazer o que fizeram. Não disputo isso porque eu sabia que era errado antes até de ser feito. Ao derrubar o Iraque, os americanos exacerbaram e espalharam a ameaça de terrorismo porque criaram as condições propícias para a criação de extremistas. O Iraque foi, e é, um campo de estágio para terroristas. Correndo o risco de cair no erro que o Zé Carlos identificou, gostaria de vos dizer umas palavras acerca disto.

Re: Já não há vilões?

É difícil não sentir pena do diabo, quando ele inspira músicas assim e até aparecem anjinhos...

Já não há vilões?

Ontem, numa conferência, ouvi um senhor explicar os vários processos narrativos utilizados nas séries televisivas, que, em parte, se inspiram nos folhetins do século XIX, em que autores como Charles Dickens foram mestres. Há a chamada narrativa extensiva. De episódio para episódio, de temporada para temporadas, vão sendo introduzidas novas personagens e novos elementos biográficos sobre cada uma delas. Um dos efeitos desta técnica é fazer desaparecer os verdadeiros vilões, 
Nos filmes,  pouco ou nada sabemos sobre as vidas dos maus da fita. Nas séries televisivas, os vilões são tão explicados, enquadrados, compreendidos que passamos a sentir por eles uma certa empatia e simpatia. Até por psicopatas e serial-killers. Há aqui qualquer coisa de perverso, parece-me. É este tipo de efeito que se gera quando queremos escalpelizar as causas do terrorismo. Coitadinhos dos terroristas. São pobres (o que até é mentira, mas adiante); a sociedade ocidental não os integrou decentemente; não lhes arranjou empregos condignos. O ocidente trata o norte de África e o Médio Oriente como se fossem coisa sua e nunca mais perde a mania de meter o bedelho onde não deve; ou, ao contrário, o Ocidente devia intervir mais, pela palavra ou pela força, na Síria e noutros barris de pólvora do género e agora está a pagar o preço dessa omissão.
Eu sei, eu sei, desde Freud e Marx que somos todos vítimas. O que não parece passar pela cabeça desta gente, obcecada com as causas, é que muito do mal não tem explicação. Há ofensas que não podemos punir nem perdoar, e cuja natureza continua tão pouco conhecida por nós. É o “mal radical”, como lhe chamava Kant. Só resta realmente repetir com Jesus: «Seria melhor para ele que se atasse ao pescoço uma pedra de moinho e que fosse precipitado ao mar” (Lucas, 17:1-5).

Frases famosas 24

24. O pai de Claudioney nunca foi ao Brasil, nunca pensou ir ao Brasil, não iria ao Brasil nem que lhe pagassem.

A esquerda e a direita de Deus

Na semana passada, umas declarações sexistas e de mau-gosto de Pedro Arroja ao Porto Canal sobre as deputadas do Bloco de Esquerda geraram grande indignação. Vale a pena ver a entrevista completa. Para Arroja, Portugal tem duas características principais que explicam o pântano em que vivemos: temos uma cultura feminina e somos católicos. Que as mulheres são o inferno, é um facto indisputável. Desde Eva que o sabemos. A questão do catolicismo é mais interessante. Segundo Pedro Arroja importámos o liberalismo dos países anglo-saxónicos e o socialismo da Europa do Norte. Mas depois borrifámos água-benta e adaptámo-los à nossa cultura católica. A ideia pareceu-me disparatada, mas depois concluí que Arroja tem razão. Quer à esquerda quer à direita.

(Continua aqui)

Actualização: Alexandre Homem Cristo responde ao meu artigo no Observador, na parte que tem a ver com a Educação. Não há muito que lhe possa responder, a não ser agradecer.. Ele dá dados objectivos que contrariam a minha asserção relativamente à educação.

Esperança

"Eles podem ter armas, mas nós temos flores." -- Angel Le, Paris, França

French father and son have the most precious conversation in i...

A father and son have the most precious conversation during an interview by french media at the scene of the Bataclan attacks. I saw that it hadn't been subtitled in english yet, so I made a quick edit to show the rest of the world how freakin awesome some of our citizens are. They're my heros. I feel better too now! #paris #bataclan #parisattacksImages and interview are a courtesy of Le Petit Journal . Thank you so much to the LPJ team for this interview and a very touching segment yesterday! Also, thank you for letting this video be accessed by all and not putting it down. Thank you to Angel Le (father) and Brandon (son) for brightening up our day. <3 Original Segment: http://bit.ly/1Lix9L2Original Video (without subtitles): https://www.facebook.com/PetitJournalYannBarthes/videos/1013093998733798/

Posted by Jerome Isaac Rousseau on Monday, November 16, 2015

“Hope” is the thing with feathers - (314)
BY EMILY DICKINSON

“Hope” is the thing with feathers -
That perches in the soul -
And sings the tune without the words -
And never stops - at all -

And sweetest - in the Gale - is heard -
And sore must be the storm -
That could abash the little Bird
That kept so many warm -

I’ve heard it in the chillest land -
And on the strangest Sea -
Yet - never - in Extremity,
It asked a crumb - of me.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Na minha terrinha

Na Europa e nos EUA, as notícias do atentado de Paris dominam a rádio e a TV e eu quase não ouvi falar das tempestades que decorreram ontem e estão a decorrer hoje. Vários tornados, cerca de 36!, pousaram na planície americana (Texas, Oklahoma, Kansas, e Nebraska) e, hoje de manhã, mesmo aqui em Houston, estávamos sob um aviso de tornado, quer dizer que as condições eram propícias à formação de tornados, mas ainda nenhum tinha sido avistado.

Já na parte leste do Texas, na chamada Texas Panhandle, a história foi completamente diferente como podem ver por esta foto (não, não são efeitos especiais):

O euro falhou completamente?

O Mathew C. Klein tem uma entrada muito interessante no FT Alphaville, onde explora pares de países que teriam uma afinidade mais natural para ter uma união monetária do que os países que compõem a Zona Euro, como a Austrália e a Nova Zelândia, a Noruega e a Suécia, ou os EUA e o Canadá. O argumento dele é que a introdução do euro falhou completamente os seus objectivos; o único sector que poderá ter ganho foi o financeiro:

In retrospect, it’s clear the euro simply shifted risk from exchange rate fluctuations to defaults (for foreign creditors) and nominal income (for domestic workers and businesses). This wasn’t sufficiently obvious at the time, however, or we wouldn’t have seen such massive growth in cross-border banking and portfolio flows within the currency bloc before 2008.

Fonte: Mathew C. Klein, FT Alphaville

Ao ler o artigo, não posso deixar de pensar que o modelo de gravidade de comércio internacional, apesar de muito simples, parece muito poderoso: os países comercializam mais com os seus países vizinhos do que com países mais distantes. No caso de Portugal, como só temos um vizinho, pensar na nossa posição geográfica no mundo é essencial para delinear uma estratégia de comércio internacional.

Europa sob ataque

Em Hanover, descobriram-se duas potenciais bombas, uma delas afectaria o jogo de futebol entre a Alemanha e os Países Baixos, onde estaria Angela Merkel. A outra estava numa estação de comboios.

A soccer game between hosts Germany and Netherlands which German Chancellor Angel Merkel was due to attend in Hanover was called off two hours before its scheduled start on Tuesday over fears of a planned bombing.

Hanover Police President Volker Kluwe said there were "specific indications" of a planned attack with explosives at the game. "We had received specific indications that an attack with explosives was planned," Kluwe told NDR state broadcaster.

Fonte: Reuters

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Authorities in Hanover, Germany, have discovered one explosive device that was meant to be detonated inside a soccer stadium and a second suspicious device at a train station, a reporter for Germany's n-tv told CNN.

The reporter said the train station was being evacuated.

Fonte: CNN e Reuters

Revisão

Aqui fica um texto de leitura da minha terceira classe. Como podem observar, o meu livro já está um bocadinho escavacado, mas ainda dá para se ler. Talvez ajude a alguns políticos actuais rever esta matéria.

Confissões

Em Junho fui a Washington, D.C. Havia muitas razões para ir: precisava de tirar um passaporte português novo; queria ver se dava para me recensear para poder votar nas eleições legislativas; a minha amiga Larysa, que vive lá, estava sempre a chatear-me para eu ir vê-la--eu até já tinha falhado Los Angeles; fui a D.C. em 2010, mas não passei grande tempo a visitar a cidade... Tudo isso, no entanto, não era a razão principal.

Eu fui a Washington, D.C., em Junho, no fim-de-semana em que a minha mãe faria anos, para poder ir estar em Portugal porque o território da embaixada é considerado solo português. Eu fui lá para estar com a minha mãe!

Frases famosas 11

11. Gregório de Tours, bispo, começa a sua História dos Francos de forma memorável e rigorosa, dizendo, estão sempre a acontecer muitas coisas, algumas delas boas, outras más.

Rothko, o princípio

Hoje fui ao Museu de Belas Artes de Houston, onde está a decorrer uma exposição retrospectiva de Mark Rothko, para ouvir o director do museu, Gary Tinterow, conversar com Christopher Rothko, o filho do pintor. Aprendi bastante sobre o artista e o homem.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Tutorial

O Ezra Klein disponibilizou um vídeo com uma explicação do conflito na Síria e de como o Estado Islâmico surgiu. Há uma coisa que é bastante saliente: a União Europeia não faz parte do vídeo. A União Europeia, que controla mais de 25% do PIB mundial, não tem poder diplomático, nem militar, para se defender e defender os seus interesses.

Syria's war: A 5-minute history

To understand the bloody, convoluted war happening inside and outside of Syria's borders, you need to watch this:

Posted by Ezra Klein on Wednesday, October 14, 2015

Um ódio de estimação

Cavaco Silva é um dos ódios de estimação da esquerda. Não me espanta. O homem teve quatro maiorias absolutas com mais de 50%. Teve até o desplante de ser o primeiro Presidente de direita da III República, num país que os especialistas dizem ser sociologicamente de esquerda. Há quem o acuse de sectarismo, de estar a favorecer os partidos da direita. Não sei se essa acusação é justa. E se for? Qual é a admiração e o escândalo? Mário Soares, o autoproclamado “Presidente de todos os portugueses”, não fez a vida negra aos governos do PSD no seu último mandato? Já não se lembram? Na altura, havia até quem o acusasse de ser uma “força de bloqueio” – penso que a frase pertence a Pacheco Pereira, um dos grandes ideólogos do cavaquismo.
Dito isto, não acho que Cavaco tenha sido um excelente primeiro-ministro.

Uma Angola vista de longe e com os olhos postos na Liberdade

O texto é grande, mas 40 anos de independência de um Estado também não são reflectidos em dois ou três parágrafos.
Aqui vos deixo uma reflexão, obviamente muito pessoal, no dia em que, em Luanda, começou o julgamento de perigosos "inimigos do Estado"...

***

Os NINJA da zona do euro

A crise financeira internacional, que começou em 2007 nos Estados Unidos, e a crise das dívidas soberanas da zona do euro têm na sua origem o excesso de endividamento.

Nos Estados Unidos um dos segmentos que mais cresceu foi o do crédito à habitação a famílias de baixos rendimentos, o chamado mercado subprime. Ficariam conhecidos os empréstimos NINJA: No Income, No Job and No Assets. Este milagre do crédito foi tornado possível graças à invenção da titularização – o seu criador Lewis Ranieri foi considerado, em 2004, pela revista Business Week como um dos maiores inovadores do século XX, ao lado de Bill Gates e de Steve Jobs. A titularização permitiu reduzir o risco e, assim, abrir as portas dos mercados financeiros a milhões de famílias.

No período anterior à crise financeira internacional deixou de se aplicar a definição de acordo com a qual um banco é alguém que está disponível para emprestar um guarda-chuva quando está sol, mas que o pede de volta quando começa a chover. Com o mercado subprime e os empréstimos NINJA os bancos passaram a emprestar dinheiro quer chovesse quer fizesse sol. Foi precisamente nos mercados subprime e nos empréstimos NINJA que a crise financeira internacional começou no verão de 2007.

Lembrei-me desta história quando estava, mais uma vez, a tentar perceber o que terá levado os mercados financeiros a cederem-nos crédito a jorro, mesmo depois de se terem tornado evidentes os bloqueios estruturais que conduziram à estagnação da nossa economia desde o início do século XXI. O rendimento de Portugal deixou de crescer, o desemprego não parou de aumentar e os activos da economia portuguesa desvalorizaram-se, mas continuaram a emprestar-nos dinheiro.

Conclusão, nós fomos os NINJA da zona do euro.

Vou votar com euros

Acordei e são 2:20 da manhã. Comecei a pensar em António Costa e perguntei-me "Em que circunstâncias é que este homem desistirá de ser Primeiro-Ministro?" Não obtive resposta nenhuma. Não acredito que ele desista por vontade própria. Tudo o que ele fez até agora foi mentir e manipular a situação em seu favor. Eu não sou contra um governo PS; eu sou contra um governo PS nestas circunstâncias.

Custa a acreditar!

Custa-me a acreditar que, com tanta gente desempregada, quem tem emprego se comporte desta maneira. Alguém que trabalha na Intimissimi da Rua Augusta, em Lisboa, decidiu meter no lixo informações pessoais recolhidas de pessoas à procura de emprego. Este tipo de informação devia ser destruída usando máquinas de triturar papel (shredding machines em inglês, não sei se acertei na tradução). Isto é uma grave violação dos direitos destas pessoas, que confiaram nesta empresa ao submeter a sua candidatura.

A Intimissimi deve um pedido de desculpas ao público e devia levar com uma multa em cima.

Foto de Aida Duarte, divulgada no Instagram e no Facebook em 13/11/2015. No Facebook, a Aida deu permissão para a foto ser divulgada publicamente.

Demagogia barata

A Catarina Martins diz que é da geração que vai derrotar Cavaco Silva. OK, ignoremos o facto de Cavaco Silva não ir mais a eleições, logo o que ela disse é absolutamente ridículo, será que ela quer dizer que vamos ter uma vida tipo a que tínhamos antes de Cavaco Silva? Antes de Cavaco Silva era assim, se ela já se esqueceu ou não sabe, eu refresco: